"A paixão piracicabana pelo E.C.XV de Novembro ainda não foi de todo compreendida por nossas classes dirigentes. O Nhô Quim é uma de nossas griffes principais. E, quando o povo tem bandeiras comuns, tudo fica mais fácil, no fortalecimento de identidades. Romeu Ítalo Rípoli sabia disso. E sua paixão pelo XV beirava à irracionalidade. Pelo XV, o XV como fim, valiam todos os meios. Até o golpe do baú.
Rípoli era mestre em realizar o que hoje passou a se chamar de factóide. Se não havia notícia, ele inventava. Se nada de novo acontecia, ele criava. E seus blefes e invencionices eram tão absurdos que passavam por verdadeiros. Na década de 1970, o Corinthians perdeu um título tido como ganho num jogo contra o Palmeiras. Tudo estava acertado para o Corinthians voltar a ser campeão, algo que, então, parecia, aos governos militares, como questão de segurança nacional. Mas o Corinthians perdeu. E o bode expiatório foi o extraordinário craque Rivelino que, na verdade, tremeu naquele jogo. E a torcida o execrou, transformando, num momento, o ídolo em vilão.
Era incrível: a torcida corintiana não queria mais Rivelino no time. E, por quantia milionária, o Corinthias começou a negociá-lo com o Fluminense, do Rio de Janeiro. Era quase que uma ofensa ao futebol paulista, no qual Rivelino reinava de forma esplendorosa. E o que fez, então, Romeu Ítalo Rípoli? Convocou a imprensa paulista, jornais, rádios e emissoras de televisão, informando que tinha uma grande notícia para dar, decisão bombástica.
Ora, todos sabiam da difícil situação financeira do XV, mas controlada de maneira genial por Rípoli. Ele contava tostões. Jogadores tinham salários baixos, básicos. E ele dava "bichos" altíssimos por cada vitória. A estratégia fazia com que jogadores se matassem em campo para ganhar os "bichos". E dava certo. Mas a situação financeira era precária. Mesmo assim, Rípoli convou a imprensa, anunciando a "bomba", aquela que seria uma contratação de repercussão internacional. Enrolando o cigarrinho de palha, diante de microfones e câmeras de televião, Rípoli anunciou, com aura de herói:
- O que o Corinthians está fazendo é uma vergonha para o futebol paulista. Rivelino é patrimônio dos paulistas e não podemos admitir que ele se transfira para o Rio de Janeiro.
Paralisaram-se microfones, máquinas fotográficas, emudeceram-se jornalistas e radialistas. Rípoli lambeu a palha do cigarrinho, deu o nó final, acendeu, tirou umas baforadas, fulminou a imprensa nacional:
- Diante de tamanha agressão ao futebol paulista, eu resolvi: o XV irá fazer um grande sacrifício, mas não permitiremos que Rivelino vá para o Rio de Janeiro. Já comuniquei à diretoria do Corinthians que quero comprar o passe de Rivelino, que ficará em São Paulo e jogará com a camisa alvi-negra do Nhô Quim.
A mentira era tão grande, mas tão grande que ninguém duvidou. E, durante um mês, o XV e Rípoli ocuparam espaços e tempo enormes nos meios de comunicação brasileiros. O Fluminense, diretoria e torcida, quase enlouqueceram, o Corinthians aumentou o preço do passe de Rivelino e Rípoli, com cara de santo, alegava que a diretoria corintiana estava fazendo jogo sujo com o XV, leiloando Rivelino. Que, obviamente, foi para o Fluminense. E Rípoli nunca confirmou ter sido blefe e mentira a oferta por Rivelino. "Eu ia comprar, estava tudo certo. O Corinthians é que me traiu."
Para se ver que não se fazem mais Romeu Rípoli como antigamente."
Foto: Romeu Ítalo Rípoli - Acervo Pessoal - João Luís Almeida
Texto: Cecílio Elias Netto para "A Província"
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